Estímulo dado pelo BC à economia é extraordinário e temporário, diz diretor
Por Valor Econômico
12/01/2020O diretor de política monetária do Banco Central (BC), Bruno Serra Fernandes, afirmou hoje que o grau atual de estímulo que o BC dá à economia por meio da política de juros continua adequado. "O momento atual ainda é de estímulo bastante extraordinário", disse, acrescentando que esse estímulo tem sido "bem-vindo".
Ele também afirmou, no entanto, que o impulso dado pelo BC é "temporário" e será retirado em algum momento. "Sabemos que a taxa de juros estrutural não é 2%", disse, referindo-se à taxa que permite o máximo de crescimento da atividade sem que a inflação acelere. "É natural esperar que esse estímulo extraordinário vá sair em algum momento."
Atualmente, o juro básico Selic está em 2% ao ano. O Comitê de Política Monetária (Copom) realiza a sua primeira reunião do ano na semana que vem para deliberar o valor da taxa.
Serra também comentou, em webinar promovido pela XP Investimentos nesta terça-feira, que é possível que o "eventual" abandono do "forward guidance" leve a uma alta imediata da taxa básica de juros. Segundo ele, essa decisão dependerá da conjuntura econômica. O forward guidance é a intenção declarada pelo BC de não aumentar a Selic no curto prazo.
"Da mesma forma que não tem um diagnóstico mecânico entre o término do forward guidance e o começo de um ciclo de alta de juros, também não tem determinação mecânica de que não pode acontecer um ciclo [de alta] de juros imediatamente após uma eventual queda do forward guidance", disse. "Não é mecânico para lado nenhum."
Ele lembrou que o BC destacou em dezembro que há duas situações principais que podem levar ao fim do forward guidance: projeções e expectativas já se alinhando à meta no horizonte relevante para a política monetária, que inclui 2021 e 2022; ou a aproximação do horizonte relevante em relação a 2022, ano em que as projeções e expectativas já estão ancoradas.
"Se tem uma subida forte de projeções e expectativas [a primeira situação], é natural que você esteja mais próximo do fim do forward guidance e de discutir alta de juros", disse. Caso haja apenas uma aproximação maior de 2022, "aí uma coisa não tem nada a ver com a outra", referindo-se à queda do forward guidance e à alta dos juros.