Caminhão especial, escolta e sigilo: como a vacina contra a covid-19 vai ser transportada pelo Brasil
A CoronaVac, primeira vacina aprovada pela Anvisa a circular pelo Brasil, exige uma logística impecável para não perder a eficiência
Por Auto Esporte20/01/2020
Um dos tipos de transporte mais sensíveis do mundo é o de produtos biológicos, que inclui qualquer tipo de vacina. De acordo com o Guia para a Qualificação de Transporte de Produtos Biológicos da Anvisa, em vigor desde abril de 2017, esses medicamentos são constituídos por moléculas proteicas altamente complexas e tanto a instabilidade química quanto a física podem contribuir para uma perda de sua eficácia.
Caminhões refrigerados
Segundo a Anvisa, o medicamento necessita de uma temperatura controlada, então o transporte terrestre terá que ser feito por caminhões — e alguns furgões — com baú refrigerado, além, claro, do medicamento estar dentro de um isolante térmico durante todo o deslocamento para manter sua temperatura.
A vantagem da CoronaVac comparada a outras vacinas é justamente na gestão de armazenamento e distribuição, já que a temperatura de conservação exigida é entre 2 e 8°C, média que os freezers disponíveis no Brasil utilizam para outras vacinas, e pode sobreviver até seis meses.
Das 8,7 milhões de doses previstas em contrato para entrega até 31 de janeiro, 6 milhões já foram encaminhadas. Deste total, cerca de 1,4 milhão permanecerão em São Paulo, enquanto o resto será distribuído sob demanda para os outros estados do País.
Todas as vacinas da CoronaVac serão armazenadas no Centro de Distribuição e Logística (CDL) do Ministério da Saúde, que fica em Guarulhos, na região Metropolitana de São Paulo. Antes de sair de lá, há um controle de qualidade para garantir que todos os lotes estão dentro do padrão. Os veículos também passam por vistoria para saber se a temperatura do baú está correta.
Nas regiões sul, sudeste e centro-oeste, as vacinas serão entregues apenas pelos caminhões e furgões refrigerados. Já nas regiões norte e nordeste o transporte será aéreo, e, ao chegar aos respectivos destinos, os veículos climatizados são responsáveis pelo deslocamento em terra. Alguns lugares ainda receberão barcos com câmaras especiais para dar apoio no transporte.
Chegando em cada estado, todas as vacinas são encaminhadas para os centros estaduais que são localizados na capital. Lá, as secretarias de saúde definirão quanto cada cidade irá receber do lote, e as doses são transportadas para os centros municipais. Após chegar em cada local, o armazenamento das vacinas e a logística dos veículos são de responsabilidade da prefeitura local.
A frota atual será de 100 veículos pelo Brasil, entre caminhões e furgões, mas até o final de janeiro a previsão é que mais 50 caminhões façam parte da frota. Todos os veículos possuem sistema de rastreamento e bloqueio via satélite.
Escolta e segurança máxima
Além do sistema de rastreamento dos veículos e bloqueio via satélite, outra forma de manter a segurança no transporte é por escoltas armadas feitas pela Polícia Militar em todo o País durante o deslocamento.
No estado de São Paulo, por exemplo, 25 mil policiais atuarão desde as etapas de armazenamento, envio de doses e insumos nos caminhões às regiões e municípios, até a aplicação das vacinas nos postos.
A Força Tática e a Rocam (Ronda Ostensiva Com Apoio de Motocicletas) da PM farão a escolta dos caminhões com as vacinas do Butantan ao Centro de Logística, onde também haverá guarda montada.
Todas as rotas dos caminhões na distribuição serão escoltadas pela Polícia de Choque. Os centros regionais de armazenamento terão policiamento para apoio dos Comandos Regionais, que também farão articulações com as Guardas Municipais para a segurança nos postos de vacinação.
Sigilo
Secretarias de segurança pública de todos os estados comunicaram que tiveram alguns de seus locais de armazenamento da vacina escolhidos estrategicamente e os manterão sob sigilo para não correr nenhum risco de represálias e ataques de grupos contrários à vacinação.